A trajetória de Baekhyun ao Hello, World: Abraçando novos papéis e refletindo sobre uma década de evolução no K-Pop.

Celebrando o lançamento de seu quarto EP e primeiro lançamento em mais de três anos, Baekhyun leva a GRAMMY.com pela sua carreira lendária — desde seu debut com os gigantes do K-Pop, EXO, à criação de sua própria gravadora, INB100.

“Naquela época, eu pensava em mim mesmo como o Homem de Ferro”, a estrela de K-Pop, Baekhyun, compartilha através de uma chamada de vídeo diretamente de Seul. O cantor de 32 anos, conhecido por seus papéis em grupos que pegam o topo dos charts como o EXO, EXO-CBX e SuperM, reflete sobre seu debut como solista, o City Lights.

“Eu gosto muito do Homem de Ferro. Eu sei que não sou tão super, mas, já que é uma entrevista, vou dizer Homem de Ferro”, ele adiciona, fazendo piada, um dedo esguio abaixo do queixo. “Lembro quando começou (o filme de 2008), ele (Tony Stark) estava em uma caverna com recursos muito limitados, mas ele construiu uma armadura feita com eles. Não era perfeita, mas era um começo mesmo assim. E dali em diante, ele foi melhorando. Acho que isso é bem parecido com a forma que eu também fui melhorando ao longo do tempo”.

A última “melhoria” de Baekhyun é seu quarto álbum e primeiro lançamento em mais de três anos, o Hello, World, que saiu no dia 6 de setembro. O esforço tão aguardado vem em um momento crucial também: Baekhyun voltou do serviço militar obrigatório de dois anos da Coreia do Sul em 2023 e logo fundou a INB100, uma nova gravadora para sustentar sua carreira solo de seu próprio jeito.

Vestindo uma camiseta preta e um boné Kusnef de grife, com um delicado colar prateado de cruz adornando seu pescoço, a melhor palavra para descrever Baekhyun neste momento é “confortável”. A julgar por seu rosto jovial, muitos podem sequer suspeitar que ele é um artista veterano, quanto mais um homem de negócios. Durante a entrevista, ele senta o mais próximo o possível da tela do laptop, encarando curiosamente, sorrindo generosamente.

“Para que o público possa amar minhas músicas, eu preciso amá-los também. A primeira impressão é muito importante“, ele compartilha sobre a escolha das seis faixas que contam a história de Hello, World. “Começa com Good Morning, que é sobre uma rotina feliz e confortável com um ente querido, e então avança para um término, seguido de um reencontro com aquela pessoa.”

Inspirado por filmes, como Chungking Express de Wong Kar-wai e O Show de Truman de Peter Weir, Baekhyun convida os ouvintes ao seu próprio universo cinematográfico, onde você pode ter “tudo o que você quer” e “tudo o que você precisa”.

“Atualmente, por causa dos shorts do Youtube e reels do Instagram, para que as pessoas escutem uma música de 3 minutos e não fiquem entediadas, os primeiros 10 segundos precisam ser muito bons”, ele diz. Pineapple Slice, o single confiante e de uma boa batida do Hello, World é a prova disso. “Quando ouvi a música pela primeira vez, ela me hipnotizou”, ele diz. Mas conseguir chegar ao equivalente da armadura LXXXV do Homem de Ferro — a última e mais poderosa do Tony Stark — não aconteceu da noite para o dia.

Nascido em Bucheon, uma cidade satélite perto de Seul, Baekhyun queria ser cantor desde seus 11 anos. “Não achava que ia conseguir trabalhar sentado em um escritório porque sou uma pessoa muito animada por natureza, e não consigo parar quieto”, ele compartilhou com a ELLE Korea em 2015.

Sua voz tenor cheia de cor é distinguível desde o ensino médio, onde ele foi o vocalista da banda 혼수상태 (honsusangtae, ou, sua tradução, “Coma”). Enquanto se preparava para os testes de entrada para a faculdade em 2011, ele foi recrutado pela gigantesca gravadora SM Entertainment — e menos de um ano depois, debutou como um dos vocalistas principais do boygroup EXO. “Ficava nervoso e ansioso o tempo todo”, ele diz sobre seu período excepcionalmente curto de treinamento para um idol de K-Pop. “Ao invés de me divertir e curtir, eu senti muita pressão para ser muito bom.”

Fazer parte do EXO era parecido com estar em um filme de super-herói, ele diz. “Acho que éramos parecidos com Os Vingadores da Marvel, porque cada um de nós tinha seu próprio poder.” EXO, nome derivado da palavra exoplanetas/planeta extra-solar (planetas que não estão no Sistema Solar), debutou com um enredo elaborado onde cada membro foi atribuído uma habilidade sobrenatural para lutar contra o mau, a Red Force.

A Baekhyun, foi atribuído o poder de controlar a luz. Mas o que começou como uma parte boba da história do grupo, tornou-se um de seus símbolos mais importantes. Através de sua voz, Baekhyun consegue trazer luz e escuridão, intensidade e suavidade, tudo ao mesmo tempo. “Parecia outra pessoa naquela época, mas agora eu penso que ‘luz’ equivale ao artista Baekhyun”, comenta. “‘Light’ é muito parecido com ‘life’ (vida). Pode significar iluminar os outros, como uma lâmpada, mas também ser uma energia ou influência positiva. Nesse momento, eu quero fazer as pessoas o mais felizes o possível.”

Durante seus primeiros anos, o EXO fez enorme sucesso com epopeias como MAMA e hits arrojados como Growl e Love Me Right. Em 2016, eles já eram nomes importantes na indústria e o anúncio da primeira sub-unit, EXO-CBX, formada por Baekhyun, Xiumin e Chen, foi recebido com grande animação. Como mostrado pelo single de debut, Hey, Mama, o trio seguiu a oferecer músicas alegres com um brilho sagaz, contrastando com o estilo poderoso do EXO.

“Queríamos que as pessoas rissem quando nos vissem”, diz Baekhyun. O clipe especial para The One vem à tona. Ele compara o grupo com a comédia de 2009, 3 Idiotas. “É um filme cômico, então as pessoas que estão assistindo se sentem felizes, certo?” ele pergunta. “Através do EXO mostrávamos nosso lado descolado, mas com o EXO-CBX eu queria que as pessoas se sentissem mais próximas de nós. Sou uma pessoa muito barulhenta e meio frenética, mas Chen e Xiumin são tão calmos que eu me senti relaxado e confortável. Mesmo quando cometi erros, eles eram protetores comigo, como se fossem meus pais.”

2016 também foi o ano em que Baekhyun melhorou de forma notável suas habilidades na dança. Seus passos se tornaram repletos de emoção e ele frequentemente adicionava pequenos ajustes e estilo próprio nas coreografias, destacando-se com facilidade. Em junho do mesmo ano, o EXO lançou um de seus singles mais refinados, Monster, e o solo de dança do Baekhyun durante a turnê EXOr’DIUM atestou ainda mais suas habilidades de controlar a plateia — primeiro com sua voz e, agora, com seus movimentos.

Baekhyun também teve experiência com atuação mais ou menos na mesma época, estrelando no drama de TV da SBS, Moon Lovers: Scarlet Heart Ryeo e na produção sul-coreana do musical Singin’ in the Rain. Apelidado de “genius idol” por seus talentos variados e personalidade calorosa, uma carreira solo era, naturalmente, o próximo passo, e ele passou uma grande parte de 2017 e 2018 ensaiando para isso. Através de duetos que ficaram no topo dos charts como Dream com Suzy do Miss A, Rain com Soyou do Sistar, Young com o rapper Loco, e mais, a artisticidade singular do solista Baekhyun começou a brilhar.

Em julho de 2019 veio seu primeiro EP, City Lights, que vendeu mais de meio milhão de cópias, e eventualmente se tornou o álbum mais vendido por um solista na Coreia do Sul nos anos 2010. “Ao invés de me pressionar pensando ‘eu tenho que fazer muito sucesso,’ meu debut foi uma saudação ao mundo, dizendo ‘Ei, é isso que eu quero fazer'”, ele explica.

A chama crescente do R&B de UN Village mostrou um novo lado para a estrela aclamada. A autoconfiança resistente do single foi refletida no resto da tracklist — cinco músicas repletas de drama e desejo, feitas para serem ouvidas ao escurecer. “Fiquei muito surpreso com a quantidade de amor que recebi, e me ajudou a decidir qual direção tomar nos meus futuros álbuns solo.”

Mas antes que Baekhyun pudesse sequer pensar no futuro, ele foi arremessado diretamente em direção ao seu quarto debut: o supergrupo SuperM. O projeto da SM Entertainment e da Capitol Music Group debutou em outubro de 2019, e juntou Taemin do SHINee, Baekhyun e Kai do EXO, Taeyong e Mark do NCT, e Ten e Lucas, também do NCT e da banda chinesa WayV, para formar “Os Vingadores do K-Pop” — como eram apelidados às vezes.

Mas para Baekhyun, o SuperM foi além disso. “Não acho que exista um gênero de filme que eu consiga comparar ao SuperM. Seria como se super-heróis da Marvel, da DC Comics e outros, todos se juntassem em um filme só.”

Baekhyun foi nomeado como líder do grupo, uma posição que o ensinou como ser responsável. “Eu aprendi como ser bastante cuidadoso e a trabalhar muito duro, o tempo todo, em tudo”, ele diz. Durante as promoções deles nos EUA, ele ficou impressionado com a diversidade de estilos, sons e hábitos que cada membro trazia ao grupo. “Senti a necessidade de cuidar dos outros membros. Antes, eu me apoiava muito nos membros do EXO e me sentia bem protegido.”

O surgimento da pandemia da Covid-19 em 2020 interrompeu muitas atividades do SuperM, o qual o foco principal era o mercado internacional. Entretanto, a indústria do K-Pop resistiu, mais prolífica do que nunca, e em maio de 2020, Baekhyun lançou seu segundo EP, Delight.

Menos melancólico que o City Lights, o álbum foi uma injeção de serotonina muito bem-vinda durante momentos sombrios, liderada pelos sons atrativos de sintetizador de Candy. Em julho, o Delight ultrapassou a marca de 1 milhão de vendas, tornando-se o primeiro álbum de um solista na Coreia do Sul a conquistar tal feito desde 2001. “Foi inimaginável”, ele diz. “Não esperava um milhão de cópias vendidas e todos aqueles recordes nos charts. Mas eu fiquei triste que não pude retribuir aquele amor me apresentando ao vivo para os meus fãs por causa da pandemia.”

Durante uma entrevista com a GRAMMY.com na época, Baekhyun compartilhou que seu objetivo principal era demonstrar versatilidade. “Os fãs sempre diziam que gostavam tanto do meu lado doce quanto do mais sensual e performativo, então eu queria capturar ambos e apresentá-los em um pacote maior.” Mesmo que tenha sido uma era próspera para ele, as restrições da pandemia e seu alistamento militar iminente deixou uma sensação agridoce.

Menos de um ano depois, em março de 2021, Baekhyun elevou suas habilidades com seu terceiro EP e despedida antes do exército, o Bambi. O álbum, cheio de altos e baixos (em questão de tom) extraordinários e inflexões vocais muito hábeis, foi um trabalho que ultrapassou os limites do cantor. “Eu queria mostrar tudo que eu tinha, toda a minha experiência, todo o meu talento, eu realmente queria que tudo estivesse nesse álbum”, ele disse. “Especialmente porque eu teria que me alistar pouco tempo depois. Mesmo que tivesse muitas músicas difíceis, eu pensei ‘Eu vou fazer isso, e vou fazer bem.'”

Baekhyun se alistou no exército em seu 29° aniversário — 6 de maio de 2021. Levaria quase dois anos para que ele voltasse para suas atividades como um artista, mas a pausa o cedeu um período necessário de autorreflexão. “Sempre que eu tinha tempo livre, eu monitorava todas as minhas atividades passadas pelo YouTube. Eu fazia anotações mentais tipo, ‘Fica bom quando eu faço assim’ ou ‘Assim fica esquisito'”, ele relembra. “Também pensei muito sobre o que eu gosto e no que eu sou bom, e tentei encontrar uma compatibilidade entre essas coisas. Eu acho que eu entendo quem eu sou um pouco melhor agora.”

Após seu retorno em fevereiro de 2023, Baekhyun foi convidado pela Riot Games para dublar o personagem Ezreal do League of Legends na boyband virtual do jogo, Heartsteel. Ele apresentou o single PARANOIA ao vivo na final do Campeonato Mundial de 2023. Ele também cantou tanto o hino dos EUA quanto o da Coreia do Sul na turnê mundial da MLB em Seul em 2024. Enquanto esses eventos confirmaram que ele ainda estava em seu auge, o principal desenvolvimento na trama de sua carreira foi a criação de sua própria gravadora, INB100.

“Sempre tive o desejo de fazer minhas próprias coisas, mas é muito, muito difícil tornar isso uma realidade”, ele diz com um sorriso nervoso. “O motivo principal pelo qual eu fiz isso foi porque eu queria muito me encontrar com meus fãs com mais liberdade e frequência, e agora eu posso fazer isso quando eu quiser.”

“Mesmo como líder do SuperM, eu não acho que eu tenha sido muito duro/opressor”, ele adiciona. “Sempre pensei em como fazer todo mundo contribuir e criar sinergia. Na minha empresa, nesse momento, sempre estou pensando sobre como podemos trabalhar bem juntos. Eu tento escutar mais os outros e sempre pergunto o que eles acham. Mesmo que leve um tempo, é importante que todos trabalhemos em direção a uma meta em comum em conjunto.”

Apesar de uma década de conquistas cravejadas de estrelas e um novo papel de liderança no ramo dos negócios, Baekhyun compara esse momento em sua vida à comédia dramática de 2015, Um Senhor Estagiário. Nela, o viúvo Ben Whittaker de 70 anos (interpretado por Robert De Niro) decide adotar um novo capítulo ao se tornar o inesperado estagiário de uma loja online agitada.

“Quando assisti aquele filme, fiquei muito tocado”, ele diz. “Antes, eu estava sempre tentando impressionar meus fãs, mas agora eu quero ser um bom trabalhador. Eu quero ser uma pessoa reconfortante e confiável. Tento mostrar muitos lados enquanto me apresento, mas gostaria de mostrar estabilidade na questão emocional.”

Com a mentalidade de um aprendiz e sagacidade de um sábio, Baekhyun navega pelas novas correntezas com muita coragem, apesar dos obstáculos e vilões que possam vir a aparecer. Quando perguntado qual filme ele gostaria que representasse o seu futuro, ele para e pensa por alguns momentos, o dedo abaixo do queixo novamente. “Em um futuro muito, muito distante, eu adoraria viver como no filme da Pixar, Up: Altas Aventuras.”

Fonte: Grammy Awards
Tradução e adaptação por Baekhyun Brazil.